Várias são as inquietações quanto a educação de crianças e adolescentes. O analfabetismo é uma realidade preocupante no Brasil, assim como a pobreza, a violência, a prostituição, a delinqüência. Menores abandonados à sua própria sorte perambulam pelas ruas da cidade, pedindo à porta dos carros, às vezes com semblante de piedade, às vezes com ódio estampado no rosto. Pedem exigindo, cobrando uma conta que não lhes foi paga pela educação dos pais, pela Escola, pela Comunidade. Roubam para comer, para continuar vivendo. Mas também, pelo prazer de horrorizar o outro, causar-lhe dano, vingar-se dos sofrimentos de uma infância totalmente adversa. Roubam ainda quando não têm necessidade. Roubam para adquirir drogas. Eles se armam e atacam para se defender, agridem por medo de serem agredidos. Mas eles se armam e agridem, também, por vingança e pelo prazer de ver o outro sofrer.
De um certo ponto de vista, estes meninos-adolescentes, são mais vítimas do que culpados, são mais anjos do que demônios. De um outro ponto de vista, eles são a expressão encarnada de suas paixões não domesticadas, ainda em estado bruto, rudes, selvagens, desorganizados, descontrolados, anárquicos, primitivos. São como uma pedra de diamante em estado bruto, não lapidada, não beneficiada. Culpa de quem? Dos pais? Da família? Da Escola? Da Sociedade? Um fenômeno que vem acontecendo cada vez mais, ao longo do tempo, é o fato dos pais delegarem a educação de seus filhos à Escola. Isto é notório; os especialistas envolvidos percebem e falam disso há muito tempo. A maioria dos pais esperam que a Escola vá assumir todas as responsabilidades pela educação de seus filhos. Os pais desejam isso! Cada vez eles têm menos tempo para os filhos e os colocam na mão de educadores, desde a mais tenra idade. Eles acreditam que deve ser assim, que os educadores estão mais bem preparados e têm o tempo necessário para cuidar dos seus filhos. Eles enxergam a Escola como a entidade que tem o papel e a obrigação de cuidar da educação ampla e irrestrita de seus filhos.
Claro, há nisso um grande mal-entendido! Tal tendência é a expressão de um grande equívoco! Evidente que a Escola é um lugar não só de aprendizagem, de aquisição de conhecimentos, mas também da educação do aluno no seu sentido mais amplo; a educação para a cidadania, a educação para a postura ética, a educação sexual, a educação profissional, etc. O equívoco não está aí, ele está na atitude dos pais de acharem que o papel da educação dos filhos é uma responsabilidade só da Escola. Esta é uma tendência que tem se apresentado cada vez mais aos nossos olhos, ou seja, a tendência dos pais afastarem e até mesmo se abdicarem da educação dos seus filhos.
Eles acham que não têm tempo, mas não fazem nada para se organizarem e arranjarem tempo. Acham que não sabem mais como educar os filhos no mundo de hoje, mas não fazem nada para aprenderem. Qual é a solução para eles? A mais fácil, apoiada na lei do menor esforço, isto é, “que a Escola cuide da educação de nossos filhos”. A responsabilidade é da Escola! É lá que o pessoal sabe das coisas, é lá que há pais-professores bem preparados e é lá que o governo retorna o benefício do imposto que pagamos.
Portanto, em termos de educação de filhos, a tendência está caminhando para isso: a Escola cuida! O que der certo e o que der errado, debita-se na conta da Escola. E assim, à moda de Pilatos, muitos pais lavam as mãos. Está errado! Isto não pode continuar assim! A educação começa em casa e isso é extremamente importante para o desenvolvimento dos filhos, para a estruturação de sua personalidade, para o futuro desse ser humano na própria Escola e, consequentemente, para o futuro desse ser humano na Sociedade. Podemos dizer, sem medo de errar, que o destino da humanidade no planeta terra depende da educação que os filhos recebem de seus pais em seus lares. Os ditados populares, consagrados ao longo do tempo “a educação vem do berço” e “pepino se torce quando é pequeno” confirmam isso.
A educação, portanto, começa com a mãe. Ela gera, dá a luz, cuida da criança, alimenta-a, dá segurança, dá carinho e introduz o filho num mundo totalmente novo e hostil para ele. Diferentemente do animal, se a criança não tiver os cuidados da mãe, literalmente morre. É a mãe, também, que ensina e estabelece os rudimentos da educação de seus filhos e o pai é aquele que os organiza e estrutura, possibilitando o desenvolvimento cultural, educacional e o crescimento, como gente capaz de viver em sociedade e ser feliz. Com isso eu introduzo a questão do pai.
Pai é tão importante quanto mãe!... Mas, o que é ser pai?... Em que consiste esta função de pai?... O pai não é apenas um ser humano de carne e osso. Quando pensamos em pai, o aspecto mais importante a ressaltar é o que chamamos de função de pai ou de função paterna. Isto implica em algo no campo da representação simbólica, daquilo que é condição indispensável para se criar a lei e criar as condições de uma vida em grupo, tanto na família, quanto na Sociedade. Isto que chamamos de função paterna é função de representação da lei, que se expressa no exercício da autoridade e do poder do pai.
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