quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Grupo de extermínio que matou cerca 300 na Paraíba tem ligações com o RN


Um grupo de extermínio formado por cerca de 30 policiais militares da Paraíba, revelado ontem pelo secretário de Segurança Pública paraibano, Gustavo Gominho, pode ter participação em uma série de crimes ocorridos no Rio Grande do Norte. Para o delegado Walber Virgolino, coordenador do Grupo Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil paraibana e um dos responsáveis pela investigação contra o grupo de extermínio, a ligação do RN com a PB parte do tráfico.O delegado Walber Virgolino explicou ontem ao DE FATO que os integrantes do grupo de extermínio paraibano prestam serviços aos grandes traficantes da Paraíba, que, por sua vez, estão intimamente ligados ao Rio Grande do Norte. Ele revelou que a maior parte da droga que é revendida pelos traficantes paraibanos parte justamente do território potiguar e, por isso, essa ligação entre os membros do grupo de extermínio da PB com o RN. Essa relação, segundo Walber, não está restrita ao tráfico e pode se estender ainda as mortes por encomenda e também assaltos.Ainda segundo delegado do GOE da Paraíba, o mais importante departamento da Polícia Civil naquele Estado, a prisão de um potiguar acusado de pertencer a rede que lidera o grupo de extermínio ascende essa forte ligação entre os dois Estados. O norte-rio-grandense Zildo Lopes de Souza, 30 anos, natural de Angicos, na Região Central, foi preso com outras três pessoas em João Pessoa (PB) após praticar uma série de assaltos contra estabelecimentos comerciais. Entretanto, ainda segundo Walber, a função de Zildo dentro desta quadrilha era a de "esquentar" os carros.Esquentar, na gíria policial, é o ato de pegar um veículo roubado e adulterá-lo de tal maneira que possa ser revendido como um carro legal, ou seja, sem queixa de roubo. Segundo Walber, Zildo tinha a função de trazer os carros roubados na Paraíba para "esquentá-los" no Rio Grande do Norte e, logo em seguida, enviá-los para a Bolívia, fronteira com o Brasil. O delegado ressalta ainda que outros potiguares já foram presos no decorrer das investigações acerca do grupo de extermínio e que acredita em operações posteriores para prender envolvidos no RN.A investigação acerca do grupo de extermínio, que é comandado pelos grandes traficantes da Paraíba, vinha sendo conduzida em sigilo pelo Grupo de Operações Especiais, sediado em João Pessoa (PB), mas a Secretaria de Segurança Pública resolveu tornar público este assunto. Ontem, em entrevista coletiva aos meios de comunicação da Paraíba, o secretário Gustavo Gominho disse que pelo menos 30 policiais militares, desde soldados até coronéis, estariam ligados ao grupo. De acordo com o secretário, nos últimos dez anos, este grupo matou cerca de 300 pessoas.
Polícia da PB e RN devem atuar juntasA suspeita de que esta facção criminosa, atuante em várias modalidades diferentes, possa ter relações com crimes de homicídios, assaltos e tráfico de entorpecentes no Rio Grande do Norte é o suficiente para que as autoridades potiguares sejam alertadas sobre essa situação.De acordo com o delegado Walber Virgolino, do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Paraíba, será feito um trabalho em parceria com o Departamento Especializado em Combate ao Crime Organizado (DEICOR) do Rio Grande Norte, instituição policial que atua de maneira semelhante àquela da Paraíba. "Por enquanto nós ainda não tínhamos acionado a equipe do Deicor (do RN), mas a gente vai realizar um trabalho conjunto porque tudo parte daí (do Rio Grande do Norte)", explica o delegado do GOE.Walber ressalta também que outras operações já foram realizadas através de uma parceria que existe entre os principais departamentos da Polícia Civil nas duas confederações e que isso deverá ocorrer em breve. Ele não quis entrar em detalhes a respeito de como será realizada esta parceria, mas disse ter informações importantes sobre a atuação desta facção que, segundo ele, "com certeza vão interessa a eles (o Deicor)".
Grupo pretendia matar autoridades da ParaíbaA decisão de tornar público a existência de um grupo de extermínio dentro da Polícia Militar da Paraíba se deu após um trabalho minucioso de investigação que descobriu um plano para matar algumas das principais autoridades policiais daquele Estado, como, por exemplo, o chefe da Segurança Pública, corregedor e outros.Durante a entrevista coletiva, o secretário de Segurança Pública da Paraíba, Gustavo Gominho, disse que todas as ações desenvolvidas por esta facção são lideradas pelo presidiário Taner Asfora, que é filho do ex-vice governador da PB, Raimundo Asfora, que morreu em 1987.Além do secretário de Segurança Pública, estariam ainda na mira da quadrilha liderada pelo presidiário, Carlos Alberto, delegado da Polícia Civil, e Magnaldo José Nicolau da Costa, corregedor geral da Polícia Civil, que é responsável pela investigação contra policiais denunciados.Ainda segundo afirmou o secretário durante a coletiva, a mando de Taner Asfora, bandidos teriam ainda clonado a placa do veículo que pertence ao corregedor para tentar incriminá-lo como participante das ações comandadas pelo grupo de extermínio, mas o plano terminou descoberto através de escutas telefônicas.
Investigação começou após vários assassinatosA identificação da existência de um grupo de extermínio foi constatada no crescimento de homicídios misteriosos entre os meses de maio e junho do ano passado. Identificados os autores, foi criada uma força tarefa para tentar prendê-los.Cerca de 40 dias atrás, após ouvir três testemunhas, a investigação comprovou a existência desse grupo de extermínio na Paraíba.Segundo o secretário Gustavo Gominho, todas as cautelas foram tomadas para prosseguir com as investigações, de modo que a vida de testemunhas e investigadores fosse preservada. "Se trata de um grupo muito perigoso e calculamos que nos últimos 10 anos tenham cometido, no mínimo, 300 homicídios". A respeito do envolvimento dos policiais militares com os 300 assassinatos cometidos a mando dos traficantes, o comandante geral da Polícia Militar da Paraíba, Wilde Monteiro, disse que a punição será severa para todos os envolvidos. "Todos aqueles que encontramos em culpa tem sido responsabilizados", garantiu o comandante geral.

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